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Belita, a Rainha dos Couratos

Blogue de receitas flexitarianas (carne, peixe e assim-assim)

Belita, a Rainha dos Couratos

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Sex | 20.06.25

Estarrecido

 

A minha terra quase podia ser um 'case study' relativamente à maneira como as pessoas lidam com o que é feito pela edilidade, que na maioria das opiniões nunca está bem, contrastando com os votos que os representantes dessa edilidade/município/junta/assembleia, etc. recebem nas eleições, que são o oposto das opiniões. Quase poderíamos pensar que os eleitores são bipolares, esquecidos ou falam só por falar, o que, actualmente, também acontece muito já que toda a gente quer dar a sua opinião sobre tudo, tipo Nuno Rogeiros de trazer por casa.

Feito o enquadramento, a autarquia local decidiu, para promover o cultivo do arroz, tradição que tem vindo a ser relançada, adjudicar ao  Chef Luca Arguelles a criação de "uma Tarte de Arroz Doce e Doce de Ovos delicada, cremosa e crocante" a que chamou Estarrico. Não imagino a reunião de 'brainstorming' que chegou a este nome mas pronto, também nunca trabalhei em marketing (nem em pastelaria) por isso, o que sei eu?

Após o lançamento deste pastel, foi também dado conhecimento de todas as pastelarias do concelho que tinham autorização para a sua confecção e comercialização, por um valor pré definido (1,70€), bem como a informação de que todos estes estabelecimentos tinham assinado um acordo de confidencialidade de modo a que a receita não seja divulgada.

Na publicação de Facebook da Câmara onde são anunciados os locais de venda, há imensas opiniões acerca do pastel, na sua maioria referindo que este não saiu muito bem, quer na textura quer no sabor e muito menos no preço, e que se calhar a autarquia tinha ganho em promover um concurso local, até porque há vários cursos de pastelaria/restauração na escola secundária local e até alguns jovens daqui que têm conquistado prémios a nível nacional com as suas criações.

Eu também provei o Estarrico e até podia dizer que já comi pior e paguei que não seria mentira. Mas por mais que tenha experimentado de vários estabelecimentos, achei-o sempre seco, o arroz-doce muito rijo (mesmo muito rijo!) e o doce de ovos, se existia, não se dava por ele. Embora esta seja uma boa iniciativa por parte da Câmara, o resultado não foi o melhor, dadas as expectativas criadas.

Ora, porque acho que o arroz carolino produzido no Baixo Vouga Lagunar é o melhor de todos os arrozes carolinos que já comi, também quis experimentar a minha versão do Estarrico, a que estive mesmo para chamar Estarrecido, em homenagem àquelas pessoas que ficam especadas a olhar. Ou Estafermo, que também os há. Mas não, chamei-lhe aquilo que é - Pastel de Creme de Ovos e Arroz-Doce  - e depois de provar a minha versão, que estava muito melhor do que as de compra que experimentei, continuo a achar que esta não é uma criação bem conseguida.

Deixo aqui a minha receita já que a 'verdadeira' está no segredo dos deuses.

De notar que a receita de arroz-doce que usei foi a que criei para um personagem de um conto que escrevi, sobre o cultivo do arroz, que ganhou o primeiro prémio do concurso Correntes de Escrita da Biblioteca Municipal de Estarreja, em 2024. Mas caso queiram experimentar com a vossa receita de arroz-doce, nada contra. Será sem dúvida melhor do que a que usaram para o Estarrico.

 

Pastel de Creme de Ovos e Arroz-Doce 

 

20250615_141112.jpg

 

Massa Areada:

2 copos de farinha

1 colher de sopa de açúcar

1 pitada de sal

100 grs de manteiga bem fria (usei Becel Cozinha)

1 ovo batido

2 colheres de sopa de leite

1 ovo batido para pncelar)

 

No robot de cozinha misturar a farinha com o açúcar e o sal, adicionar a manteiga e triturar até ficar uma espécie de serrim. Adicionar o ovo batido e as colheres de leite e triturar até que a massa esteja no ponto  (a massa quer-se mole mas sem colar às mãos).

Retirar do robot e embrulhar em película aderente. Levar ao frigorífico por uma hora no mínimo.

 

Creme de Ovos:

2 ovos

O peso dos ovos (com a casca) em açúcar

 

Mexer os ovos com o açúcar e levar ao lume, mexendo sempre até engrossar. Mas mexendo sempre mesmo, queremos que fique um creme, não ovos mexidos...

Deixar arrefecer e reservar.

 

Arroz-Doce:

100 grs de arroz carolino

1 pitadinha de sal

Água q.b.

1 litro de leite

12 vagens de cardamomo esmagadas (ou 1 pau de canela)

2 tiras de casca de laranja

150 grs de mel

1 colher de sopa de farinha Maizena

1 colher de chá de açafrão das Índias

1 colher de sopa de água de flor de laranjeira

 

Lavar o arroz e pôr num tachinho, cobrir com água e deixar cozer até evaporar a água (cerca de quinze minutos).

Entretanto pôr o leite num tacho, adicionar a casca de laranja e as vagens de cardamomo e deixar levantar fervura. Quando o arroz estiver sem água, transferir para o tacho com leite e mexer. Deixar ferver em lume brando por cerca de quarenta minutos. De seguida adicionar o mel e verificar se está doce o suficiente.

Dissolver a farinha Maizena e o açafrão das Índias num pouquinho de água e juntar ao arroz, mexendo até engrossar. Por último, adicionar a água de flor de laranjeira e reservar.

Notas: Esta quantidade de arroz-doce é mais do que a necessária para o recheio, o que sobrar vai para taças e polvilha-se com canela em pó ou raspa de laranja e aprecia-se sem reservas.

 

Montagem dos pastéis:

Estender a massa para que fique fina e cortar em rectângulos. Colocar uma colher de sopa de creme de ovo e duas de arroz-doce no meio da massa e cobrir com outra placa de massa. Prender a toda a volta com os dentes de um garfo, pincelar com ovo batido e salpicar com açúcar mascavado. Levar ao forno por trinta minutos. Retirar e deixar arrefecer numa rede.