perishable thoughts...
Para quem nunca ouviu falar (e porque este blogue de vez em quando quer dar ares de que sabe algumas coisas ) para além da Dieta Mediterrânica, muito conhecida de todos e divulgada desde a época da II Grande Guerra, existe uma outra dieta, chamada Dieta Atlântica, que não está ainda muito divulgada (a sua divulgação começou apenas há meia dúzia de anos) mas que os estudiosos dizem que é ainda mais saudável do que a outra, mais conhecida.
Esta dieta ganha o seu nome por ser partilhada por alguns países do eixo atlântico, designadamente Portugal, Espanha, França, Bélgica, Luxemburgo, Holanda, Dinamarca, Noruega, Reino Unido, Irlanda e Islândia. Olhando para a lista de países, podemos questionar o que nos une em questões de alimentação com a Bélgica por exemplo ou mesmo com a Islândia e poderíamos também pensar que se se trata de países banhados pelo oceano atlântico, então porque não considerar também o Canadá, Brasil ou Estados Unidos? A resposta é que os países que formam o eixo atlântico são europeus e são esses os que partilham de alguma forma uma alimentação que, segundo estudiosos, deveria ser seguida a nível mundial por ser tão benéfica para uma vida saudável.
Para os mentores do Centro Europeu da Dieta Atlântica, um dos factores que presidiu à constituição deste centro de estudos foi a existência de um corredor atlântico, formado por países do norte e do sul. Apesar de a alimentação de Portugal, que fica no sul da Europa, ser muito diferente da praticada por exemplo na Islândia, no norte europeu, com diferentes clima, cultura e actividades agropecuárias, mesmo assim esta é uma boa região para se efectuarem estudos que comparem quer a alimentação e os seus nutrientes bem como os estilos de vida dos habitantes de cada uma destas regiões.
Verifica-se que nos países do eixo atlântico se consomem grandes quantidades de peixe e mariscos e essa é sem dúvida uma das apostas dos mentores e promotores da Dieta Atlântica. De facto, os países com costa marítima têm maior facilidade em introduzir na sua dieta muitas variedades e qualidades de peixes que estão mais longe do alcance de países que se encontram mais para o interior. Dentro do mesmo país existe essa diferença que pode mesmo ser observada em Portugal já que os habitantes da orla costeira têm tendência a consumir maior quantidade de pescado do que os que habitam mais para o interior.
No que se refere às bebidas, verifica-se que nos países onde o domínio romano foi maior, se consome mais vinho, embora originariamente a tradição desses países fosse o consumo de cerveja e de cidra ou hidromel.
Uma das preocupações dos intervenientes no estudo e divulgação da Dieta Atlântica é retornar ao estilo de dieta efectuado nos anos 50 e 60 do século passado, onde o consumo de peixe e marisco era bastante elevado, assim como a utilização de vegetais e leguminosas, principalmente estas últimas que por falta de tempo na vida das pessoas foram deixando aos poucos de ser consumidas e que está provado serem muito benéficas para a saúde.
Para promover esta dieta, e no decorrer do II Congresso Internacional da Dieta Atlântica, foram identificados dez pontos que fazem desta dieta uma dieta saudável e funcional:
- Consumo elevado de peixe de mar e de rio e marisco;
- Consumir alimentos vegetais em abundância (cereais, batatas e leguminosas);
- Consumir bastantes frutas e hortaliças - destas, as da família brassica (de folha escura como a couve, os brócolos, os grelos, as nabiças entre outras);
- Utilização do azeite como gordura principal, especialmente em cru - a sua utilização em cru ajuda a reduzir o ‘mau’ colesterol (LDL);
- Consumir produtos lácteos diariamente - o leite e os seus derivados têm alto valor nutricional pelo que devem fazer parte de uma dieta saudável;
- Consumir carnes com moderação - as carnes brancas, ou magras, devem ser valorizadas face às carnes vermelhas;
- Recomenda-se a ingestão de vinho moderadamente à refeição e bastante água - a água deve ser consumida ao longo do dia, pode ser substituída em parte por tisanas ou chás sem cafeína;
- Simplicidade na preparação dos alimentos para não perderem o seu valor nutritivo - a cozedura em água, os grelhados e mesmo a fritura em azeite;
- Manter os hábitos alimentares tradicionais do atlântico - apreciar a comida e fazer dela um motivo de festa e regozijo;
- Realizar actividade física diariamente - este último ponto é fundamental e tão importante como a comida saudável, os dois não devem ser indissociáveis.
Notas:
- O Centro Europeu da Dieta Atlântica funciona no Instituto Politécnico de Viana do Castelo e, juntamente com várias instituições da Galiza, pretende a divulgação desta dieta e a elaboração de estudos que a certifiquem como uma das mais saudáveis;
- Este texto é parte de um trabalho que fiz sobre este tema para a cadeira de Nutrição e Gastronomia do Curso de Gestão Hoteleira do Instituto Superior de Espinho